Expedição e encontro regional mostram situação das matas ciliares do Vale do Ribeira

Promover restauração florestal na região de maior cobertura vegetal do Estado de São Paulo. Pode soar curioso, mas este desafio, assumido pela Campanha Cílios do Ribeira, tem se mostrado cada vez mais necessário.
No último mês, uma expedição pelo rio Ribeira e a apresentação de dados levantados sobre a situação de uso e ocupação de toda a Bacia, em sua porção paulista, contribuíram para o levantamento de informações e discussão referentes às matas ciliares, áreas que estão cada vez mais degradadas ao longo das últimas décadas. Na quarta-feira, 16 de novembro, membros do Conselho Gestor da Campanha se reuniram para discutir os resultados destas atividades, com foco nos aspectos botânicos.
Expedição mostra situação das margens do rio Ribeira
De 16 a 21 de outubro a Campanha Cílios do Ribeira realizou a “II Expedição de Educação Ambiental e Levantamento de Campo no Rio Ribeira de Iguape”. Durante seis dias, técnicos percorreram o rio, desde o Quilombo de Porto Velho, entre os municípios de Itaóca e Iporanga, até sua foz, em Iguape.
O rio Ribeira foi o personagem principal da expedição. Além de observar suas condições ambientais, especialmente a vegetação e o uso e ocupação do solo nas margens do rio, a equipe visitou comunidades que vivem próximas a ele, escolas municipais e estaduais (veja no Diário de Bordo, na primeira página deste site, o roteiro percorrido).

Rio Ribeira, em Iguape
Problemas como falta de água para consumo humano, dificuldades para o transporte de pessoas e insumos de uma margem à outra do rio, grandes perdas de terras e infra-estrutura em decorrência do uso intensivo do solo, desbarrancamentos e constantes cheias foram desafios encontrados pelo caminho.
Ao mesmo tempo, ações de resistência e de cuidado mostraram que muita gente se preocupa com o rio Ribeira e se empenha para restaurá-lo. Durante a expedição, a equipe conheceu jovens motivados a sensibilizar a população para as questões ambientais, agricultores que perceberam, na prática, a importância de se proteger as margens dos rios, contadores de histórias que envolvem a todos com a beleza poética do grande Ribeira.
O encontro do rio com o mar foi celebrado com o show “Excelência ao Ribeira”, do grupo Batucajé. Júlio César da Costa, poeta e membro da banda, resumiu o sentimento com o qual a equipe da expedição concluiu sua jornada. “Aqui no Vale o Rio é tudo. É a identidade do povo. A cultura popular precisa ser reconhecida e legitimada. A questão ambiental passa pela questão cultural. A valorização das comunidades tradicionais por meio da arte, da música e da poesia é muito importante”, disse.
A expedição foi registrada em duas matérias televisivas, que podem ser acessadas nos links abaixo:
Matéria Jornal SBT
Matéria Antena Paulista
Encontro da Campanha
Durante o Encontro Regional da Campanha Cílios do Ribeira, realizada em 04 de novembro no município de Registro, foram apresentados dados sobre os plantios desenvolvidos. De 124,57 hectares em restauração, 53% são áreas particulares; 19% são assentamentos rurais; 16% são áreas públicas e 12% são áreas de populações quilombolas ou indígenas.
As metodologias de restauração utilizadas são variadas: plantio total (56%), enriquecimento e condução da regeneração natural (23%), repovoamento com sementes de palmito juçara (11%) e sistemas agroflorestais (10%). A escolha da técnica depende de diagnóstico prévio realizado por técnicos da Campanha, que, a partir das informações sobre as atividades desenvolvidas na propriedade atendida, indicam ao proprietário as opções mais interessantes.
No encontro foram apresentados também dados levantados durante a expedição pelo rio Ribeira. Ao longo do rio, apenas 36% da cobertura vegetal nativa está preservada. Áreas de campo/pastagem ocupam cerca de 19% das matas ciliares, e a bananicultura é responsável por uma cobertura de 13%. Os desbarrancamentos, assoreamentos e perda de infra-estrutura são algumas das consequências deste tipo de uso.
Os dados levantados durante o Plano Diretor de recomposição florestal visando á conservação dos recursos hídricos, projeto desenvolvido pelo Instituto Socioambiental (ISA), com apoio do Comitê da bacia Hidrográfica Ribeira de Iguape/Litoral Sul e Fundo Estadual de Recursos Hídricos (FEHIDRO), foram discutidos pelos presentes.
As informações começaram a ser construídas em outubro de 2010, pelo Laboratório de Geoprocessamento do ISA, e a partir de fevereiro de 2011 cada um dos 23 municípios paulista do Vale do Ribeira recebeu visita da equipe do projeto para discussão das informações. Para iniciar um plano de ação para a recuperação das matas ciliares, quatro oficinas regionais foram realizadas nas diferentes regiões da bacia hidrográfica. Essas propostas foram validadas durante o Encontro.
Há uma demanda de mais de 70.000 hectares a serem recuperados, considerando todos os rios da bacia. Um aspecto a ser considerado são as áreas que se encontram em regeneração natural. Durante as discussões com os gestores municipais, foi observado que grande parte destas áreas foram abandonadas por seus proprietários, que, em alguns casos, abandonaram suas atividades produtivas ou mesmo a região.
O próximo passo é estabelecer custo/benefício para os processos de restauração e organizar as propostas, estabelecendo suas prioridades, para a busca de investimentos e oportunidades para a região, que aliem a preservação do patrimônio ambiental do Ribeira e o desenvolvimento de sua população.
Acesse aqui as apresentações feitas no encontro
Equipe da Expedição observa área degradada
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Desafios para 2012
O trabalho de campo e as discussões com os parceiros confirmam a importância da continuação dos processos de restauração e de um olhar mais cuidadoso para a bacia hidrográfica, em especial para o rio Ribeira.
Em 2012, a Campanha iniciará o levantamento dos viveiros comunitários da região, identificando como está a cadeia produtiva da restauração florestal, desde a coleta de sementes até os plantios. O monitoramento dos processos também terá destaque, tendo em vista os diferentes estágios em que se encontram os plantios da Campanha e a necessidade de se produzir informações estratégicas para multiplicar as iniciativas de recuperação das matas ciliares da bacia do rio Ribeira.
E Viva o Rio Ribeira!